terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Museu Marítimo e Navio-museu Santo André em dia aberto

4 de Fevereiro 
MMI

Santo André

No primeiro sábado de cada mês, apenas e durante o horário de inverno, que se estende de outubro a fevereiro, as entradas no Museu Marítimo de Ílhavo e no Navio-museu Santo André são gratuitas. A abertura é às 10 horas no MMI e às 14 horas no Navio-Museu Santo André; a última entrada de visita é às 17h15 no Museu e às 17h30 no Navio-Museu.

Aula de Fotografia com Zé

Crónica de Maria Donzília Almeida


Costa Nova em grande plano 








“A fotografia é a poesia da imobilidade: 
é através da fotografia que os instantes 
se deixam ver tal como são.” 

Peter Urmenyi

“Uma imagem vale por mil palavras” foi o slogan que durante muito tempo preencheu o meu cotidiano docente, nomeadamente com o advento dos audiovisuais aplicados ao ensino. A imagem era um recurso educativo muito usado, em sala de aula, como suporte à explicitação e consolidação de conteúdos programáticos.
Dada a sua importância, havia bancos de imagens como precioso material auxiliar do professor.
Com o avanço das novas tecnologias, houve uma significativa poupança de tempo e esforço na obtenção desse recurso.
Considerando a força e eloquência da imagem, há uma forma de a obter que vai somando adeptos – a Fotografia. Colecionar imagens tornou-se uma atividade aliciante e desafiadora, na sociedade contemporânea, mercê da tecnologia e da instantaneidade, por vezes, da informação. Dia a dia, nos movemos mais pelas imagens que traduzem uma linguagem autoral, ou uma forma de comunicação, seja nas artes, na política, no domínio familiar ou como forma de comunicação global. 
Quando a disponibilidade de tempo vem associada à vontade de empreender coisa novas, na idade madura, embarca-se na aventura da Fotografia como hobby.
Assim aconteceu com um grupo de seniores que, à 6.ª feira, assistem, religiosamente, à aula de Fotografia como oferta pedagógica na Universidade Sénior.
Um jovem irreverente fotógrafo e apaixonado professor quis transmitir-nos o bichinho da sua arte, aliando conceitos abordados na sua simplicidade com a sua exequibilidade prática. Há uma diversidade de equipamentos fotográficos presentes entre os seniores, desde as câmeras fotográficas compactas até às câmeras fotográficas reflex.

Pombo da nossa terra no pódio da 35.ª Olimpíada Columbófila

O "Atleta" olímpico

O pombo-correio, propriedade do sócio Sílvio Vilar,  do Grupo Columbófilo da Gafanha (GCG), que representou Portugal nas Olimpíadas Columbófilas, em Bruxelas, na categoria Sport Absoluta (melhor pombo nas três especialidades, velocidade, meio fundo e fundo), subiu ao pódio, ocupando o 3.º lugar, o que significa uma honra para o nosso país e para o GCG. 
Felicito os columbófilos da nossa terra pelo palmarés de um pombo-correio deste nível, bom estímulo para que outros lhe sigam a carreira. Da mesma forma felicito Sílvio Vilar pela sua tenacidade e saber neste desporto que tem por atletas os nobres pombos-correios.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Santo André noutro tom


Para fugir ao trivial, aqui fica uma foto do Navio-museu Santo André num tom agradável.  Talvez para recordar o tempo do preto e branco, também bonito de ver.

domingo, 29 de janeiro de 2017

A liberdade é um perigo

Crónica de Frei Bento Domingues 


«A invocação, na Igreja, do dever de obediência devia ser sempre acompanhada pelo direito e pela exigência de prosseguir os caminhos da investigação da verdade. O perigo não é a liberdade, é o autoritarismo»

1. 800 anos é muito tempo. Foi com este título que anunciei o jubileu da Ordem dos Pregadores (1216-2016). Não tenho uma devoção especial pelas comemorações, mas sei que uma das doenças mais temidas na minha idade é, precisamente, a perda da memória, Alzheimer. As crianças têm pouco passado. Elas são a realidade do futuro. Os idosos têm algum passado e pouco futuro. As Ordens Religiosas não nasceram todas ao mesmo tempo e, dentro da mesma época, nasceram para responder a desafios novos e diferentes, supondo que têm algo a dizer ao mundo em mudança. Não têm promessas de vida eterna. Algumas nasceram e morreram depressa, outras têm a pele mais dura.
A Ordem dos Pregadores, com suas glórias incomparáveis, virtudes e pecados, celebrou 800 anos. Como muitas outras, não nasceu só de uma vez. Por vezes, onde foram mais vigorosas e fecundas, enfraqueceram e começam noutras áreas culturais e sociais, como se estivesse a nascer de novo. Há 70 anos que conheço os dominicanos. Encontrei-os em muitos países, umas vezes em grande desenvolvimento, noutras com muitas dificuldades e, noutras ainda, a começar como se estivem a fundar a Ordem.
Faço parte dos dominicanos há 64 anos. Quando entrei, vivia-se uma grande turbulência nas províncias dominicanas francesas. Era a época da nova Teologia, dos Padres operários, do diálogo activo com as diferentes correntes do mundo contemporâneo: teólogos com as suas obras no Index dos livros proibidos, outros no exílio, etc.. Essa história triste está feita e abundantemente documentada [1].
Só depois, já durante o Noviciado, tomei conhecimento de uma história anterior, trágica e gloriosa. Estou a referir-me ao itinerário do dominicano Marie-Joseph Lagrange, fundador da Escola Bíblica de Jerusalém (1889-1913).

sábado, 28 de janeiro de 2017

Senescência ou senilidade?

Crónica de Mª Donzília Almeida

Cartaz 

Presidente da CMI aprecia trabalhos dos Maiores 

Na hora de saborear o bolo

A idade está na mente 
Nós temos a idade que pensamos. 
Assim, teremos somente 
Aquela que vivenciamos.

“Se envelhecer é uma inevitabilidade, só é velho quem quiser.” Foram estas as palavras proferidas, na festa de encerramento do ano letivo de uma Universidade Sénior, pelo poeta/escritor, engenheiro Domingos Cardoso. 
Na verdade, a temática do envelhecimento da população tem merecido a reflexão por parte da sociedade, de modo a encarar a transição da vida ativa para a aposentação, de forma digna e saudável. 
O próprio termo velhice ou velho têm sido preteridos em favor da palavra idoso, com uma conotação mais abrangente e menos depreciativa. O sufixo oso confere à palavra um sentido de quantidade e não de qualidade. Vejamos, por analogia, as palavras formoso, habilidoso, maldoso, ardiloso, etc. Há em todas, um sentido de quantidade. Logo, um idoso é aquele que somou já muitos anos ao seu CC (cartão de cidadão) e não sinónimo de caduco. 
Será uma interpretação facciosa, talvez por formação/deformação profissional. Que seja, mas é a minha própria visão do assunto em epígrafe. 

Visita Pastoral de D. António Moiteiro

Paróquia da Gafanha da Nazaré
5 a 19 de fevereiro 2017


A presença do nosso Bispo,
D. António Moiteiro,
será ocasião de:

 Anunciar a Palavra de Deus
— Celebrar os sacramentos
— Conhecer melhor a realidade social e religiosa
— Dialogar com o clero
Visitar as diferentes camadas etárias
— Contactar os agentes da vida local (Autarquias, empresas, serviços, associações, etc.)
— Ajudar a paróquia a viver a relação com a Igreja Diocesana e Universal e a construir a unidade Arciprestal


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Quem era a serpente do Paraíso? (2)

Crónica de Anselmo Borges 


Na continuação do livro de Ariel Álvarez, 
com a pergunta acima e mais 19 sobre a Bíblia

1. "Porque é que Noé amaldiçoou o filho que o viu nu?" Uma cena estranha: Noé, que aparece na Bíblia a cultivar a vinha, "a mais preciosa e nobre de todas as plantas da Bíblia", adormeceu por causa de uma bebedeira e acaba por amaldiçoar o filho Cam, que entrou na tenda e o viu nu. O que se passou realmente? Neste caso, não se trata de homossexualidade.
Este relato tem sobretudo uma finalidade política, passando-se o mesmo com a narrativa das duas filhas de Lot, que, para não ficarem sem filhos, embebedaram o pai para terem relações com ele. Cam é o pai de Canaã e Noé não amaldiçoa Cam, mas o seu neto Canaã, porque será um filho gerado num incesto: o texto diz que Cam viu a nudez do pai, o que significa que dormiu com a esposa do pai, ou seja, com a sua própria mãe. Quem é maldito é Canaã. O texto amaldiçoa os cananeus escravizados e quer explicar as relações tensas entre Israel e os moabitas e os amonitas, também filhos de um incesto.
Havia três irmãos: Sem, Cam e Jafet. Um terminou escravo e os outros dois, livres. E "é a primeira vez que a Bíblia fala de escravidão, a instituição mais horrenda que o ser humano inventou, na qual alguém é um morto em vida, não pode decidir por si mesmo, nem fazer aquilo de que gosta, nem ir aonde quer, nem ter amigos nem ser feliz". A Bíblia falará muitas vezes do tornar-se escravo pelo pecado.

Estilo de vida alegre e feliz

Reflexão de Georgino Rocha


O sermão das bem-aventuranças abre os ensinamentos de Jesus sobre a novidade que vem anunciar, o reino de Deus. Constitui uma espécie de iniciação ao estilo de vida feliz e alegre que os discípulos são convidados a apreciar e a transmitir, a cultivar e a celebrar. Faz a “ponte” entre o modo de agir de Deus e as aspirações mais genuínas do coração humano. Ponte que Jesus evidencia em opções claras e atitudes coerentes. Nele, o humano é tão singular que irradia o divino que o habita. Nele, cada bem-aventurança tem a marca do seu rosto e ritmo do seu coração. Nele, brilha com admirável naturalidade o reino de Deus, o pulsar do amor que se faz serviço de misericórdia.

Mateus, o evangelista narrador, compõe o seu discurso com sentenças colhidas em várias passagens bíblicas e dá-lhes um colorido entusiasta e assertivo, uma energia suplementar para quem tem de enfrentar e assumir situações contrastantes e de risco. De facto, “o mundo” vai por outro caminho, distancia-se e considera desumana, alienante e sedativa a mensagem das bem-aventuranças. O choque parece inevitável. E surgem perguntas como estas: de que felicidade se trata? Que alegria nos humaniza? Que estilo de vida sacia a nossa fome e a nossa sede de dignidade constante e de realização integral? Terão razão homens e mulheres como Madre Teresa de Calcutá, o Padre Américo do Gaiato, o Papa Francisco, as Criaditas dos Pobres, os voluntários silenciosos de todas as periferias?

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

"Tempos de Pesca em Tempos de Guerra" - apresentado na Gafanha da Nazaré

Um livro de Licínio Amador, já em segunda edição
Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré
Sexta-feira, 27 de janeiro 
21 horas 


Licínio Amador

A apresentação desta obra conta com a presença, para além do autor, do Presidente da Junta de Freguesia da Gafanha da Nazaré, Carlos  Rocha, e do vereador da cultura da Câmara Municipal de Ílhavo, Paulo  Costa.
Eu próprio, Fernando Martins, coordenarei a apresentação do livro. 
Convidam-se todos os familiares e amigos dos que naufragaram e dos que pereceram no afundamento do "Maria da Glória" a marcarem presença, como sinal de homenagem às vítimas e respetivas famílias.

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domingo, 22 de janeiro de 2017

Não à lógica do tudo ou nada

Crónica de Frei Bento Domingues 


Nisto, uma criança desata a chorar: 
"não vos preocupeis porque a pregação de uma criança na igreja 
é mais bonita do que a do sacerdote, do bispo ou do Papa. 
Deixai-a chorar, porque é a voz da inocência que nos faz bem a todos"

1. Perante o rumo assustador que a política internacional está a tomar e a múltipla inconsciência na “União Europeia”, fui interpelado por alguns católicos, que se identificam com a herança do Vaticano II, para a urgência de reunir pessoas de “boa vontade”, não apenas para interpretar os sinais deste tempo, mas sobretudo para encontrar formas activas de responder à pergunta dos Actos dos Apóstolos: que fazer?
É tarefa para quem não acredita no determinismo histórico. Um amigo mandou-me, entretanto, o hebdomadário, Le Point[i] (5 de Jan.) com a fotografia do filósofo ateu Michel Onfray na capa e a referência ao seu último livro – Décadence – anunciando que a civilização baseada no judeo-cristianismo está absolutamente esgotada. Os seus valores de outrora estão mortos e nada nem ninguém os pode reanimar.
O Islão, pelo contrário, está forte, tem um exército planetário, constituído por inumeráveis crentes prontos a morrer por Alá e o seu Profeta, ancorados em apetecíveis recompensas celestes.
A referida Revista está recheada com uma entrevista a M. Onfray, extractos do seu livro e algumas mansas réplicas.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Nesta tarde de sábado: Momentos de regata?

Sempre com farol à vista









Foi uma passagem a correr. Ao seguir a indicação habitual que me conduziria a casa, vi, de soslaio, o desafio das velas a meio da tarde de hoje, com sol que dificultava o enquadramento das fotos. Nem assim resisti. Com a devida autorização, entrei no Porto de Pesca Costeira e disparei para umas recordações. As fotos não estarão obra acabada, mas têm, de certeza, para´quem contempla a laguna, fortes motivos de encantar. Realmente, como filhos do oceano, gostamos mesmo destas paisagens. 
Bom domingo para todos.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Quem era a serpente do paraíso? (1)

Crónica de Anselmo Borges 



1. É claro que a fé não deriva da razão, à maneira da matemática ou da ciência, não sendo, portanto, demonstrável cientificamente. Mas também se deve tornar claro que a fé não pode agredir a razão, com a qual tem de dialogar, dando razões de si mesma. Há que distinguir entre saber e crer. Como dizia o médico e filósofo Pedro Laín Entralgo, o penúltimo é da ordem do saber, mas o último é da ordem da crença. Por isso, o crente não pode dizer que sabe que Deus existe e que há vida depois da morte, como o ateu não pode dizer que sabe que Deus não existe e que com a morte a pessoa acaba: o crente e o não crente não sabem, crêem, com razões. Neste contexto, Kant é inultrapassável, também quando escreveu que, apesar da sua majestade, a religião não está imune à crítica. Aliás, o Evangelho segundo São João inaugura-se dizendo: "No princípio, era o Logos", portanto, o Verbo, a Palavra, a Razão. E "foi pelo Logos que tudo foi criado", provindo daí, como sublinharam vários cientistas, que a criação, a natureza, é investigável, pois é racional. Uma religião que tem medo da razão, da investigação crítica, do confronto e diálogo com as ciências, não é humana nem presta verdadeiro culto a Deus, correndo o risco de um dogmatismo estéril e, no limite, ridículo. Como o não crente também não pode ser dogmático nem fundamentalista.

Aniversário da chegada do Gil Eanes a Viana do Castelo


É com muito gosto que divulgo o convite que me foi endereçado para marcar presença nas comemorações do 19.º aniversário da chegada do navio Gil Eanes a Viana do Castelo, no dia 31 de janeiro. Na impossibilidade de me deslocar a Viana do Castelo, de certo modo uma obrigação que é devida ao navio-hospital que prestou apoio notório aos nossos homens do mar da frota bacalhoeira, em especial, presto daqui, desta terra que tanto lhe deve, a minha sincera homenagem de gratidão. Porém, outro motivo justificaria a minha viagem a Viana do Castelo, motivo esse que se prende com a palestra que o meu amigo Senos da Fonseca proferirá nesse dia sobre João Álvares Fagundes. Uma coisa é certa, o livro que Senos da Fonseca escreveu — "João Álvares Fagundes - Um Homem dos Descobrimentos" — já está na minha agenda.

Museu Marítimo de Ílhavo celebra o seu 80.º aniversário

Fernando Caçoilo, presidente da CMI

Álvaro Garrido exibe quadro oferecido pelos Amigos do Museu
80 Anos a Navegar. Todos ao Leme!

“80 Anos a Navegar. Todos ao Leme!” é o mote para as celebrações comemorativas do 80.º aniversário do Museu Marítimo de Ílhavo (MMI), que no passado 14 de janeiro, sábado, foi apresentado como rumo a seguir até ao Dia Nacional do Mar, 18 de novembro de 2017. No sábado, comemorou-se também o 4.º aniversário do Aquário dos Bacalhau, uma das grandes atrações do museu ilhavense.
«Temos rumo traçado. Queremos fortalecer o projeto sociocultural e introduzir novas medidas de gestão. Sabemos o que queremos. Entendemos o Museu como uma vaidade, se me permitem usar esta expressão. É orgulho. Ficamos orgulhosos por aquilo que o Museu representa em qualquer canto do país», afirmou Fernando Caçoilo, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo (CMI). E acrescentou que 2016 foi o ano em que se bateram todos os recordes de entradas no nosso museu, com 81 010 visitantes, e de receitas próprias.
O autarca evocou a gente ousada que há 80 anos iniciou este processo e afirmou que o MMI «muito deve aos Amigos do Museu», garantindo «que todos os ilhavenses se orgulham deste espaço». Frisou, entre outras informações e projetos, uma excelente notícia que marca o início de um ano de festejos e que se traduz na «transferência do arquivo dos organismos públicos das pescas para o MMI, por iniciativa da Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos».
Aníbal Paião, presidente da Associação dos Amigos do Museu, sublinha que o desafio é continuar a inovar e a investir para dar atratividade ao Museu. «Esta magnífica arquitetura é muito importante, mas, apesar desta beleza, tem que existir a sensação de trabalho inacabado para que o Museu continue vivo e vibrante. É necessário o contínuo enriquecimento nas relações e que a investigação aprofunde o seu valor e traga novas temáticas. Quando acabar essa sensação e o Museu se tornar estático será um belo edifício mas sem vida».

Entre os gentios, Jesus inicia a sua missão

Reflexão de Georgino Rocha


Não basta que a luz brilhe. 
É preciso abrir os olhos 
e remover os obstáculos

A opção de Jesus por fazer de Cafarnaúm local de residência e centro de irradiação missionária na Galileia parece estranha e indicia a novidade que vem anunciar: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino de Deus”. Pressionado pela urgência interior de ir ao encontro das pessoas e partilhar a grande notícia “Deus vem e já está connosco”, desloca-se para a terra dos gentios, junto ao lago de Tiberíades, tomando como indicador claro de ter chegado a hora para a sua decisão a prisão de João Baptista. Estranha opção para quem faz uma leitura superficial dos factos e não tem em conta o seu contexto histórico e cultural. Estranha opção para quem esquece a dimensão simbólica que frequentemente os acompanha e abre a um nova dimensão.

Mateus, o narrador evangelista, recorre ao profeta Isaías para apresentar alguns traços de Cafarnaúm e destacar que a nova situação de Jesus corresponde ao que estava anunciado. Traços centrados no povo que vivia nas trevas e viu uma grande luz, que jazia na região sombria da desesperança e levanta o ânimo, voltando a esperar. “A verdadeira realidade de Cafarnaúm - afirma Florentino Hernandez, autor do «Guia de Terra Santa: História-Arqueologia-Bíblia» é a de ter sido escolhida por Jesus de Nazaré como sua segunda pátria e de haver sido o centro do seu ministério apostólico na Galileia”. Gente pobre, não miserável, vivia do campo que cultivava entre pedras e na zona marítima, da pesca e do comércio de alguns produtos. Terra onde se cruzavam rotas de negociantes e peregrinos.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Unidade no certo, liberdade no duvidoso e caridade em tudo

Semana de oração pela unidade dos cristãos  
— 18 a 25 de janeiro


«Reconciliação» entre cristãos é esperança 
para a Europa, proclama o Papa Francisco

«O Papa Francisco assinalou hoje no Vaticano o início da semana de oração pela unidade dos cristãos, afirmando que este esforço ecuménico é um sinal de “esperança” para a Europa.
“Na Europa, esta fé comum em Cristo é como um fio de esperança: pertencemos uns aos outros. Comunhão, reconciliação e unidade são possíveis”, disse, na audiência pública semanal que decorreu na sala Paulo VI.
Na saudação aos peregrinos de língua portuguesa, Francisco sublinhou que estes dias de oração são um apelo à “comunhão de preces e de esperanças
“O movimento ecuménico vai frutificando, com a graça de Deus. Que o Pai do Céu continue a derramar as suas bênçãos sobre os passos de todos os seus filhos. Irmãs e irmãos muito amados, servi a causa da unidade e da paz”, concluiu.
A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que no hemisfério norte se celebra de 18 a 25 de janeiro, evoca em 2017 os 500 anos da reforma protestante, iniciada por Martinho Lutero.»


Ler mais aqui 

Nota: Texto e foto da Ecclesia

Mais duas palavras

Já lá vai o tempo em que se falava da unidade dos cristãos no sentido de as igrejas,   não católicas, fecharem a sete chaves vivências de fé, durante séculos, para se acolherem na Igreja Católica, aceitando, obviamente, como pastor comum, o Papa. Penso que essa ideia já foi posta de parte, predominando, nos tempos de hoje, o respeito mútuo pela verdade essencial que é Jesus Cristo, Mestre e Salvador. E assim, seguindo cada Igreja o seu caminho, lado a lado, em pé de igualdade com a Igreja Católica,  todas estarão a construir o Reino de Deus neste mundo. fundamental para brotar uma sociedade mais justa e fraterna. 
Há muito que defendo o princípio de as Igrejas seguirem a máxima de grande alcance, atribuída a Santo Agostinho, que muito aprecio e que li,  pela primeira vez, há décadas, na Catedral de São Paulo, da Igreja Católica Apostólica Evangélica Lusitana, em Lisboa: "Unidade no certo, liberdade no duvidoso e caridade em tudo" 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Grupo Columbófilo da Gafanha tem nova sede

Um pombo da nossa terra 
vai representar Portugal 
na 35.ª Olimpíada  Columbófila de Bruxelas

Presidente da Câmara e Presidente do GCG içam a bandeira



Em momento de troca de impressões 



Um pombo-correio, Campeão Nacional, do sócio do Grupo Columbófilo da Gafanha (GCG), Sílvio Vilar, vai representar Portugal na 35.ª Olimpíada Columbófila, que decorre em Bruxelas, entre 27 e 29 de janeiro. Esta participação é motivo de orgulho para todos os columbófilos da Gafanha da Nazaré, salienta Adelino Pina, presidente da direção daquela associação.
Orgulho pela honra da participação de um pombo-correio numa competição daquele nível, mas também pela inauguração da nova sede, que teve lugar no domingo, 15 de janeiro, na Rua Roberto Ivens, n.º 1. A cerimónia foi precedida da bênção da sede, dirigentes e sócios, pelo pároco, Padre César Fernandes.
Fernando Caçoilo, presidente da Câmara Municipal de Ílhavo, não esconde a sua satisfação pela nova sede do GCG, que é uma das mais antigas instituições da nossa terra, pois foi fundada em 8 de abril de 1953. «O GCG está de parabéns porque fica aqui com instalações muito dignas», concretizando-se deste modo um «anseio com muitos anos». 
O autarca sublinha a forma cordial como tudo foi tratado entre a Câmara e o GCG, «conjugando diversos interesses». O grupo deixa o velho edifício da antiga Cooperativa Humanitária, que dá lugar à Casa da Música, e a autarquia «resolve o problema com a cedência destas instalações», que foram profundamente adaptadas, «tendo sido possível construir um pavilhão», necessário às atividades da prática columbófila. 
Fernando Caçoilo faz questão de sublinhar que «não somos um município rico; por isso, temos de aproveitar aquilo que temos». E lembra que assim nasceu o projeto da Casa da Música, o Teatro da Vista Alegre, o Museu da Vista Alegre e o Mercado da Barra, entre outras obras.
Carlos Rocha, presidente da Junta de Freguesia, reconhece que não é um apaixonado pelos pombos-correios, mas adianta que no GCG «há qualquer coisa de extraordinário». «Esta instituição tem uma vida muito intensa». Diz ainda que, pelo que tem visto, «os desafios são constantes e a envolvência dos sócios é total». E acrescenta: «Só quando assumi a Junta é que percebi a riqueza que há na freguesia.» 
Adelino Pina frisa que o GCG tem 50 sócios, havendo seis mil pombos recenseados. Refere que os bons columbófilos têm mesmo de viver esta atividade com paixão, já que é fundamental «selecionar, tratar e treinar os pombos-correios, numa perspetiva de criar um pedigree». Só assim, garante-nos Adelino Pina, «será possível conseguir campeões, capazes de bons resultados desportivos».

F.M.

A tradição continua: Cantar dos Reis de porta em porta



Até o meu neto Dinis teve o privilégio de ouvir os nossos cânticos

Como recomenda a tradição, na passada sexta-feira, 13, recebemos o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré que veio cantar as Janeiras, entre nós designadas por Cantar dos Reis. De facto, os cânticos com que nos brindaram tinham a marca dos nossos ancestrais e a beleza das melodias natalícias. Não haverá gafanhão que as não tenha nos ouvidos, apesar de entoadas apenas nesta quadra. Melodias simples e  belas, também por isso capazes de ficarem gravadas na memória de quem as ouve.
A visita do Cantar dos Reis é sempre um saudável encontro para rever amigos, depois os seus filhos e netos. E é curioso que, para nosso espanto, precisamos mesmo de ser elucidados. E diz a Lurditas, com oportunidade: — Olhe que esta, a do bombo, é a minha filha. 
A conversa não podia durar muito. O tempo urgia e outras casas esperavam o grupo que anda neste mundo das tradições, há uns 30 anos, a Cantar os Reis, que o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré faz questão de nos oferecer. 
Muito obrigado pela visita. E para o ano, se Deus quiser, cá estaremos.

domingo, 15 de janeiro de 2017

Universalismo Cristão (II)

Crónica de Frei Bento Domingues 



1.Têm razão os teólogos que se empenham em sublinhar que o cristianismo não é, fundamentalmente, uma religião do Livro, como dizem que são, por exemplo, o judaísmo e o islão. É, na sua essência, a graça do seguimento de Jesus Cristo como caminho, verdade e vida, fonte de sentido, de beleza e responsabilidade pelos mais abandonados. Para interpretar esse acontecimento profético, os cristãos recorreram, desde o princípio, à chamada “biblioteca do Antigo Testamento”. A partir dela, criaram outra que narra e interpreta a inesgotável beleza de Jesus Cristo. Chama-se o Novo Testamento, a grande escrita da inovação da vida.
O chamado “Novo Testamento”, com dois mil anos em cima, não estará também ele já muito velho e ultrapassado? Vamos por partes.
Por essa e outras razões, vou manter o título do texto do domingo passado — Domingo da Epifania, dos Reis Magos — clausura do ciclo litúrgico do Natal. O cristianismo é, de raiz, universal. Pode ser traído.
Seguindo um género literário identificável, S. Mateus construiu, com velhos materiais, a narrativa da viagem destas enigmáticas figuras, mostrando que já não era em Jerusalém que se podia encontrar a salvação. O Messias, sem poder, sem pompa e sem forças armadas, nasceu para todos, na periferia. Essa significação universal era dada ainda no espaço religioso judaico. Não referi o grande salto teológico de S. Paulo da Carta aos Efésios, recolhida na segunda leitura da mesma celebração universalista: “Os gentios recebem a mesma graça que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.”
Não será essa uma questão já ultrapassada? Talvez sim e talvez não. Não passo adiante sem voltar mais atrás. As narrativas notáveis de S. Lucas, em dois volumes, de cristologia e eclesiologia, oferecem referências históricas e geográficas ao processo de universalização do cristianismo que importa destacar e talvez nos possam ajudar no presente.
S. Mateus partiu de Abraão para falar da origem de Jesus Cristo. S. Lucas, ao recuar a genealogia de Jesus até Adão, sublinhava que Ele assumiu o passado de toda a humanidade. Ampliou essa convicção nos Actos dos Apóstolos. Jesus, o judeu, não assumiu apenas o passado, mas também o presente e o futuro da humanização cósmica e divina da História. A coligação de Herodes e Pôncio Pilatos, com as nações gentias e os povos de Israel contra Jesus, não só não o derrotou, como até provocou uma ideia perigosa, que alguns julgam, erradamente, totalitária: “Não há outro nome dado aos seres humanos pelo qual possam ser salvos.” [i].

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Jesus e a revolução judeo-cristã

Crónica de Anselmo Borges 

Deus encarnou em Jesus Cristo

1 As sabedorias filosóficas antigas, orientais e da Grécia, elaboraram "espiritualidades" em ordem a uma vida boa, sem passar nem por Deus nem pela fé. Foi frente a essas sabedorias que o cristianismo, a partir da sua herança judaica, ergueu uma orientação nova, religiosa, de salvação, enraizada na fé num Deus pessoal, transcendente e criador. Essa nova representação foi "tão atraente e prometedora" que triunfou durante séculos sobretudo na Europa. Esta é a tese desenvolvida pelo filósofo não crente Luc Ferry, antigo ministro da Educação em França. O que é facto é que, "entre o século V e o século XVII, o Ocidente foi essencialmente cristão, cultural e filosoficamente cristão, de tal modo que a filosofia moderna, a partir do século XVII, mesmo quando foi crítica em relação às religiões, até resolutamente ateia, não deixou de ser marcada de modo decisivo por esta herança religiosa". O fundo de cultura judeo-cristã é omnipresente e por isso "é indispensável" que mesmo os não crentes se interessem e captem os traços fundamentais dessa cultura, para "se compreenderem a si mesmos e compreenderem o mundo dentro do qual vivemos", escreve Luc Ferry. A pergunta é: "Que havia de tão profundo, de tão sedutor, atraente e fascinante na mensagem de Jesus (e concretamente no que se refere à morte que injecta sempre a angústia no coração dos homens), para ter-se arrogado com tanta força o monopólio da definição legítima da salvação e da vida boa, em detrimento das espiritualidades filosóficas que formavam o essencial das sabedorias antigas?"

Dar testemunho de Jesus, o Filho de Deus

Reflexão de Georgino Rocha


 “A alegria do amor 
que se vive nas famílias 
é também o júbilo da Igreja”

Após o ciclo litúrgico e festivo do Natal, a Igreja entra no tempo comum e propõe que voltemos ao que foi celebrado e aprofundemos a sua relação com a nossa vida, o seu alcance para o cuidado da criação, o seu sentido para a história da humanidade. Isto é, que nos familiarizemos com Jesus Cristo e a sua mensagem.
João Baptista surge, hoje, a dar o seu primeiro testemunho a respeito de Jesus. Fá-lo, ao ver que Ele vem ao seu encontro e se aproxima. Recorre a metáforas bíblicas conhecidas pelos ouvintes: O cordeiro e a pomba. Ambas de grande simbolismo. O cordeiro pela mansidão, ternura, vulnerabilidade, relação com o rebanho e o pastor. A pomba pela inocência e pela paz, pelo amor puro e pela esperança anunciada.
O livro bíblico «Cantico dos Cânticos» desenha muito bem a riqueza das metáforas para expressar o amor humano, reflexo do amor divino: “Pomba minha… deixa-me ver a tua face, ouvir a tua voz, pois a tua face é tão formosa e tão doce a tua voz” (2, 14). “Abre, minha irmã, minha amada, pomba minha sem defeito” (5, 2). E o rosto do masculino e do feminino, em harmonia deslumbrante, faz surgir a beleza do amor fontal e da torrente criadora. Esta metáfora torna-se recorrente na revelação do amor de Deus por nós e alcança em Jesus e na sua relação com a Igreja a realização plena.
Por isso, o papa Francisco pode dizer: “A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja”. (AL 1). E apresenta uma bela e exigente meditação sobre este amor quotidiano no capítulo quarto da sua exortação apostólica. Exigência impregnada de paciência e atenção ao outro, de abnegação e sacrifício.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Visita Pastoral ao Arciprestado de Ílhavo

Urge fazer a leitura permanente 
dos sinais dos tempos


Como estava programado, o Bispo de Aveiro, D. António Moiteiro, iniciou a Visita Pastoral ao Arciprestado de Ílhavo, o que honra todos os diocesanos radicados nas cinco paróquias, nomeadamente, S. Salvador, Gafanha da Nazaré, Gafanha da Encarnação, Gafanha do Carmo, Costa Nova e Barra. Digo que é uma honra, porque o povo católico, e não só, terá várias oportunidades de ouvir e conversar com o prelado aveirense, que vem estimular a caminhada coletiva ou individual de cada um de nós, na linha da construção do Reino de Deus. Uma Visita Pastoral, no meu entendimento, traduz-se numa oportunidade de revitalização das pastorais diocesana e paroquiais, dirigidas aos crentes e, a partir deles, a toda a gente, numa perspetiva da fé dos batizados, assente em tarefas de evangelização e de catequese, que hão de projetar-se na vida de todos. 
Para além dos diálogos que D. António  Moiteiro alimentará com os responsáveis pelas estruturas paroquiais e com os paroquianos, em diversos momentos da visita, espera-se que daí saiam propostas de alterações e melhorias nos serviços, respondendo cabalmente aos desafios que os novos tempos impõem. Diocese e paróquias que não façam a leitura permanente dos sinais dos tempos correm o risco de se tornarem pesos mortos na sociedade em constante mutação. 
Para além dos encontros e conversas, dos momentos de reflexão e das propostas de inovação, das passagens atentas pela estruturas sociais e pelas empresas que geram riqueza ou passam dificuldades, mas também das indispensáveis visitas a doentes e aos fragilizados pela doença ou idade, não hão de faltar celebrações litúrgicas que contribuam para a unidade dos crentes em torno da Boa Nova de Jesus Cristo, que veio propor, a todos os homens,  a civilização do amor, que hoje, porventura mais do que nunca, necessita de pessoas e organizações com capacidade de liderança e de ação, responsáveis e estimulantes.

Calendário da Visita Pastoral

Costa Nova: 8 a 15 de janeiro
Barra: 14 a 22 de janeiro
Gafanha do Carmo: 22 a 29 de janeiro
Gafanha da Nazaré: 5 a 19 de fevereiro
Gafanha da Encarnação: 19 a 26 de fevereiro
S. Salvador: 12 a 26 de março
Encerramento: Ílhavo, 15 de março, dia do Corpo de Deus.

Jornada Diocesana da Infância Missionária

. GAFANHA DA ENCARNAÇÃO 
. 21 de Janeiro, sábado
. Das 10 às 16 horas



No próximo dia 21 de janeiro, entre as 10 e as 16 horas, vai realizar-se, na Gafanha da Encarnação, a II edição da Jornada Diocesana da Infância Missionária, que tem por tema "Crianças evangelizam e ajudam crianças".
Neste dia haverá várias atividades para e com crianças e suas famílias, não só dos grupos de Infância Missionária que a Diocese já tem, mas também para todas as crianças das várias paróquias da Diocese que desejem participar.
É oportuno destacar do programa as tendas alusivas aos continentes, com atividades associadas à cor de cada continente e aos povos dessas regiões. Também estão agendadas pinturas faciais e modelagem de balões, tenda das mensagens e desenhos missionários, jogos tradicionais, comércio solidário e danças do mundo no palco. Projeções de vídeos da Infância Missionária, almoço partilhado, hora do conto e animação de rua são outras ações que enriquecem as jornadas e os participantes.
Todas as atividades são gratuitas, sendo que a única coisa que se pede é que cada criança traga uma moeda para colocar no mealheiro gigante das missões. A verba recolhida destina-se a ajudar projetos com crianças em países de missão.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O Poder da Informação

Auditório Paroquial da Gafanha da Nazaré 
24 de janeiro de 2017 
11 horas 


Carlos Matos na primeira pessoa

Não trocava este meu cantinho 
pela vida do Cristiano Ronaldo

O artista exibe um Cristo e chama a atenção para alguns pormenores

Cristos, Nossa Senhora e Presépios 

Uma espiritualidade sempre presente

O artista junto das suas peças

A arte de retirar a tinta

A arte de retirar a tinta

Aprazado o encontro, dirigimo-nos para o local indicado. Entrámos pela rua João dos Santos, em homenagem ao antigo presidente da Junta de Freguesia e industrial da Gafanha da Nazaré, mesmo ao lado de uma pastelaria. Alguns passos andados, sem pressas, chegámos ao armazém com o seu grande portão de ferro, como nos tinha sido dito. No cimo, lá estava a placa que dizia “NICHO D’ARTES”. Uma campainha com intercomunicador era o único sinal de modernidade. Tocámos e identificámo-nos. O Carlos Matos, de bata branca, recebeu-nos com a lhaneza esperada. Num recanto do armazém, do lado direito, lá estava o nicho. Espaço de trabalho e zona expositora bem definidos, mas contíguos. Registámos o silêncio que revestia o ambiente. Nem televisão, nem rádio, nem telemóvel a perturbar aquela paz tão propícia à criatividade. 
O branco das paredes emoldurava quadros e motivos escultóricos de diversas tonalidades e formas. A sensibilidade do artista plástico está bem patente no que os nossos olhos captaram. E algumas peças até nos emocionaram. Como é possível ficarmos indiferentes à arte expressiva e multiforme de um gafanhão, que se especializou, durante muitos anos, na decoração de interiores? Mas o melhor é seguir o Carlos Matos na primeira pessoa e depois visitar quanto antes o seu recanto. Entrevista conduzida por Fernando Martins.

Carlos Matos


Frequentei Arquitetura no Porto durante três anos. Depois a vida não me deixou acabar o curso. Dediquei-me à decoração de interiores e fiz projetos para o país inteiro, de Norte a Sul. Decorei casas particulares e centros comerciais até aos 63 anos. Com a reforma, assumi a minha vida como artista plástico, sem seguir a linha seja de quem for; procuro criar a minha própria bandeira, garantindo que as peças que crio são únicas e irrepetíveis. Não faço serigrafias nem cópias, seja do que for, porque dessa forma estaria a tirar o valor à peça original. As obras encomendadas são peças únicas e jamais haverá qualquer trabalho semelhante.
Faço mobiliário urbano por encomenda, exigindo sempre a propriedade da patente, com todos os direitos. Há painéis meus um pouco por todo o lado, nomeadamente no cemitério de Ílhavo, onde criei um mural. Entendo que a arte é uma maneira de ser, de estar e de gostar. Por isso as peças de arte não têm de ser explicadas. Cada apreciador faz a leitura do que vê. E quando olhamos para figuras estilizadas, o importante é gostar do que se contempla, do conjunto cromático que o artista concebeu e executou. 
Quando as pessoas nascem com alguma vocação artística, talvez nem saibam que têm arte dentro de si. A arte acontece naturalmente. E até se questionam como eu me questionei: — Como é que eu consegui fazer isto? Como é que eu fui capaz? Será que eu sou um artista?
Desde a escola secundária fui sempre o melhor aluno na turma de desenho e o meu professor, Eng. Pascoal, até chegou a enviar desenhos meus, onde não faltavam barcos, ao Comandante Tenreiro, o “patrão” da pesca do Bacalhau. Também gostei de brincar com as coisas nos trabalhos manuais. E nos trabalhos de decoração já criava, já pintava as casas à minha maneira. Mas um dia senti o clique.
A arte pode ser inata, mas precisa de ser burilada, aceitando o artista o desafio de contornar as dificuldades que surgem no dia a dia. A mistura das tintas nem sempre bate certa. Quando trabalho a madeira, se uma peça esgalha onde não quero, tenho mais um motivo para contornar e avançar. E a peça será naturalmente diferente da que estava projetada. Ano a ano vou reunindo um conjunto de técnicas e de saberes, mas reconheço que a evolução é contínua. Com qualquer coisinha estou sempre a aprender.
Por vezes fico louco quando vejo pessoas da minha idade sentadas em jardins a falar de doenças, política e futebol, e quando as desafio, dizem muitas vezes: — Tu és tolo! Eu agora a meter-me em trabalhos. Isto confunde-me um bocado; enquanto eu puder andar e mexer-me, continuarei a criar. Para mim, não existem limites e impossíveis. 
Não tenho duas peças de arte iguais; nem eu nem ninguém. Tenho ali aqueles Cristos todos diferentes; quando eu estou a fazer uma cara não posso fazer a outra. Quem compra uma peça aqui, compra uma peça na Gafanha. Noutra parte do mundo há outras, mas nunca são iguais às que eu faço e vendo. Mais baratas noutros sítios? Talvez, mas não passam de peças feitas em série, rigorosamente iguais. 
A vida sem arte não faz sentido. Aliás, a natureza é que nos ensina, mas temos de descobrir a arte que está nela. E nessa descoberta está a sensibilidade do artista ou das pessoas. Quem nos ensina a pintar a água é a própria água; quem nos ensina a pintar o céu é o próprio céu. Água e céu que são todos os dias diferentes. O céu que eu pinto é o de um momento concreto; se eu o mostrar no dia seguinte, direi que é o céu de ontem. E nunca mais vejo outro céu igual na vida. Na natureza nada é igual e tudo está em mutação constante. 
É curioso como tão pouca gente sabe que eu tenho este meu recanto. Nem muitos dos meus amigos com quem tomo café todos os dias me perguntam por que razão é que eu ando de bata; nem sequer me perguntam o que é que eu faço e muito menos manifestam a intenção de ver os meus trabalhos. No entanto, tenho peças na República Checa, no Brasil, em Angola, nos Estados Unidos e em diversas regiões o nosso país. Não os motivo? Nunca gostei de falar aos outros das minhas artes. Nunca gostei de me insinuar.
Acho piada à falta de curiosidade das pessoas que me conhecem. Nunca se sentiram estimuladas ou suficientemente informadas sobre os meus trabalhos. 
Eu não posso viver sem arte e se a deixar o que é que estou aqui a fazer? Eu consigo fechar-me neste meu recanto ao domingo se tiver trabalhos para acabar; estou até às duas da manhã, se for preciso. Quando venho para aqui estou morto por chegar; quando estou para sair estou danado por ter de ir embora. E não trocava este meu cantinho pela vida do Cristiano Ronaldo! Este é o cantinho que eu criei, que eu fui comprando peça a peça, que eu fui burilando; é aqui que eu me sinto bem a olhar para os meus Cristos.

NOTA: Entrevista publicada no jornal Timoneiro

domingo, 8 de janeiro de 2017

Uma voltinha para ver a vida

Barquinho à vela

Ao longe, a ponte que dá acesso às praias

Moliceiro moribundo?

À espera da maré ou de peixe que pique?

Do longe se faz perto: Gafanha da Encarnação vista da Costa Nova

Hoje demos uma voltinha para ver a vida. O dia, luminoso e sereno, estava aliciante. A laguna apresentava-se convidativa para quem gosta e pode velejar. Impossível estacionar para quem não pudesse caminhar muito e com facilidade. Como nós, um mar de gente inundou as praias da Barra e Costa Nova. Gostámos de sentir neste inverno, ainda nos começos, um dia primaveril. Somos realmente uns privilegiados.
Se o mar se tornava impossível para mim e para a Lita, fixámo-nos na ria, sempre esplendorosa. Pescadores pacientes esperavam, aqui e ali, a hora da maré. As velas faziam adivinhar o prazer de velejar e de se deixar ir ao sabor da brisa suave. Famílias divagavam com a criançada eufórica pela liberdade oferecida pelo dia calmo. Nos carros, voltados para a laguna, gente sonhava porventura com o verão que ainda está longe.
Olhando à nossa volta, percebemos que a vida existe apesar das crises ameaçadores que reduzem dia após dia os magros salários, obrigando-nos a ginásticas forçadas, não físicas apenas, mas sobretudo morais. Em especial quando, impotentes, não vislumbramos forma de vencer a carestia da vida.
Morte anunciada nas margens da laguna? Apenas, à vista de quem passa, um moliceiro que jaz à espera de quem lhe dê a machadada final e inglória que ele porventura nunca sonhara.
Boa semana para todos.