sábado, 2 de janeiro de 2016

Festa da Epifania

Reflexão de Georgino Rocha

EM JESUS, DEUS FAZ-SE 
HUMANO PARA TODOS

Rolo da câmera | Flickr - Photo Sharing!:
Magos na tradição da Gafanha da Nazaré


Os magos do Oriente e a arriscada viagem a Belém, com episódica passagem por Jerusalém, constituem uma boa referência para todo o ser humano que busca o rosto de Deus. São um símbolo que Mateus “trabalha” admiravelmente e vem completar a manifestação do alcance da missão de Jesus. Aos familiares, é o nome; aos pastores, o anúncio dos anjos e a visita ao curral de animais; aos magos, a estrela com brilho intermitente que os acompanha em toda a viagem até Belém.

A Igreja, apoiada na riqueza desta tradição, celebra a Festa da Epifania do Senhor, festa em que Deus se humaniza em Jesus, acolhe os de longe e de perto, integrando raças e cores, tradições e culturas, crenças e religiões. Integrando, sem anular, mas completando e abrindo os olhos do coração a uma nova luz: a estrela da verdade, a riqueza do diálogo, a paciência nas “horas de trevas”, a persistência na viagem da vida, a alegria de alcançar a meta e ver o sonho realizado – início de uma nova etapa como aconteceu aos magos que regressam por outro caminho, após o encontro com o Menino e sua Mãe.

A humanidade de Jesus revela-se no rosto do menino frágil que vai tomando forma na criança que cresce, no adolescente que se auto-afirma, no jovem que se habilita na sabedoria familiar, no adulto que desempenha a missão de profeta itinerante do Reino, no cruxificado solidário com todas as vítimas inocentes, no ressuscitado que vê confirmada a razão da causa que sempre defendeu “contra ventos e marés”.

Deus faz-se carne e monta a sua tenda entre nós – diz-nos João Evangelista. E assim mostra a sua glória. No curral de animais. Em terras do Egipto como refugiado. Na casa de Nazaré. No templo de Jerusalém. Nos caminhos da Galileia e de outras povoações. Na casa da família de Lázaro. No calvário dos condenados ultrajados. E em tantos outros espaços que são comuns também no nosso tempo. “A glória de Deus, afirma Santo Ireneu de Lyon, é o homem vivente: e a vida do homem é a visão de Deus. Se a manifestação de Deus pela criação dá vida na terra a todos os viventes, muito mais a manifestação pelo Verbo do Pai dá vida àqueles que contemplam a Deus”.

Deus em Jesus diz-nos o que significa ser homem, ser mulher, ser pessoa. Não é “humano” o poder sem serviço, a força e a prepotência, a indiferença perante a dor alheia, a insolidariedade, a riqueza injusta e tantas outras formas que contrastam radicalmente com as lições de Belém e os ensinamentos do mestre de Nazaré.

O coração humano tende a instalar-se na vulgaridade do bem-estar e a deixar-se “amarrar” pela indiferença e pelo egoísmo. É preciso despertá-lo para, como os magos, se deixar guiar por uma nova estrela que brilha no horizonte da humanidade. Felizmente, há muitos homens que estão a caminho e outros que já encontraram.

Também eu quero ser peregrino na estrada da vida, tendo como farol a firmeza da fé, como cajado a força da esperança, como energia motora o vigor da caridade, a ternura da misericórdia. Também eu quero oferecer ao Senhor o ouro da minha liberdade, o incenso da minha oração e a mirra dos meus sofrimentos e fragilidades. Em solidariedade e comunhão com todos/as os irmãos em humanidade, rosto privilegiado do nosso Deus.

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