sábado, 17 de agosto de 2013

Fogo abençoado




"A divisão/ruptura diz respeito a tudo o que está mal e pretende fazer manifestar a bondade e a beleza e, com a sua energia, irradiar e contagiar os laços familiares, as relações de vizinhança, os pactos de amizade desvirtuados, as regras económicas.
O fogo purificador e a divisão sanadora garantem o brotar da aurora de uma nova humanidade onde florescerá a justiça e a paz para sempre."

Georgino Rocha

A declaração de Jesus não pode ser mais provocadora: Vim trazer fogo e quero que ele incendeie toda a terra. Não vim estabelecer a paz e, desde agora, está lançada a divisão.
Os discípulos, como nós ainda hoje, devem ter ficado chocados e perplexos. Ainda que Lucas – o autor da narrativa – tenha juntado num só texto várias sentenças, a mensagem surge tão radical que deixa intrigados a todos. E, naturalmente, nasce o espírito da busca do sentido mais profundo, o impulso da curiosidade mais abrangente do contexto, a força do desejo de verificar a coerência do proceder de Jesus.
A caminhada para Jerusalém continua. Aqui vai ocorrer o enfrentamento com os adversários – defensores da ordem estabelecida que em muitos pontos fundamentais contraria a proposta de Deus de que Jesus é portador e anunciador. Aqui vai manifestar-se publicamente quem está a favor ou é contra. Aqui ergue-se humilhante a cruz dolorosa que vira a ser transformada em Cruz gloriosa na manhã de Páscoa.
As imagens são muito fortes: Ateador de incêndios, perturbador de divisões que destroem a paz e lançam a guerra. Imagens contrárias ao que os seus contemporâneos esperavam e, mesmo, os discípulos desejavam. Imagens que, por incrível que pareça, encerram uma boa notícia, forte e interpelante, para as consciências adormecidas e alienadas.
O fogo incendiário é o do amor com uma energia tal que nada o detém. Nem a morte como se verá no Calvário. Será tudo purificado, transformado e enobrecido: preconceitos, injustiças, corrupções, desonestidades, desvios sexistas, açambarcamentos económicos… e as sementes dignas da cultura humanizada – espelho original de Deus – hão-de germinar e florir num mundo novo, de respeito mútuo, de igual dignidade, de acesso aos bens indispensáveis a todos e a cada um.
A divisão/ruptura diz respeito a tudo o que está mal e pretende fazer manifestar a bondade e a beleza e, com a sua energia, irradiar e contagiar os laços familiares, as relações de vizinhança, os pactos de amizade desvirtuados, as regras económicas.
O fogo purificador e a divisão sanadora garantem o brotar da aurora de uma nova humanidade onde florescerá a justiça e a paz para sempre.

Georgino Rocha

Nota: Imagem do Google


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