sábado, 22 de setembro de 2012

Um serviço aos outros com sentido e dimensão


Por António Marcelino

«Paróquia que não se abre aos leigos ou que os aprecia apenas pelo serviço que prestam no templo, é paróquia que perde a sua fisionomia de comunidade eclesial e empobrece cada ia no seu esforço de evangelização. Certamente que também os leigos não podem deixar de ter obrigações para com o padre e a comunidade. Um serviço por vocação, a tempo pleno, não dispensa as manifestações de respeito, acolhimento, amor e compreensão, ajuda concreta dos leigos para com o seu pastor.»



O decreto conciliar sobre “o ministério e a vida do padre” permite tomar consciência do seu lugar do padre na Igreja. A compreensão parte da sua relação com Deus e com os outros, da comunhão com o bispo de quem é cooperador necessário, da integração no presbitério e da condição de servidor. O ministério pastoral do padre é o do bispo no que lhe permite o grau sacramental da Ordem. No centro está sempre a ligação a Cristo e à Igreja, com a missão que realiza no seu dia a dia e até ao fim dos tempos.
Membro da hierarquia, a vida do padre está marcada pelo sentido de serviço ao Povo de Deus, em ordem à edificação do Seu Reino no mundo. É o serviço da Palavra nas mais diversas formas, marcado pelo dever de a todos evangelizar e educar na fé. O serviço dos sacramentos num itinerário de vida cristã que nasce no Batismo, com sentido apostólico na Confirmação, que tem o seu ponto alto e determinante na Eucaristia, não dispensando a Reconciliação e o compromisso público na Ordem ou no Matrimónio. O padre está em todos os momentos deste itinerário, abrindo ao discipulado e à vida comunitária. O padre, na sua ligação com o bispo, preside à comunidade cristã com o dever de a ajudar a ser comunidade de crentes e de apóstolos, aberta ao seu crescimento dos membros, à sua vocação e dimensão missionária.
A vida do padre processa-se na sua relação necessária com o bispo, a quem deve amor efetivo e afetivo e obediência no que à sua missão diz respeito. Mas processa-se, também, na sua comunhão com todos os padres do presbitério, pois estes lhe impuseram as mãos na sua ordenação, ou eles a impôs aos mais novos. O padre isolado não tem futuro, nem pessoal, nem apostólico. Ele será sempre um de uma família que tem a mesma missão e a realiza em ajuda mútua. A cooperação dos padres entre si, traduz-se em convívio e em acolhimento fraterno aos mais velhos e aos mais novos do presbitério. Assim se manifesta o espírito sacerdotal fraterno, em comunhão.
O Concílio insiste, pela sua importância, nas relações do padre com os leigos. Estes não são súbditos do padre, mas irmãos da mesma família dos filhos de Deus iguais em dignidade. Daí a obrigação de reconhecer e promover esta dignidade, de acolher os seus dons e carismas, de os ouvir, de respeitar a sua legítima autonomia em virtude da sua condição de cristãos no mundo. Paróquia que não se abre aos leigos ou que os aprecia apenas pelo serviço que prestam no templo, é paróquia que perde a sua fisionomia de comunidade eclesial e empobrece cada ia no seu esforço de evangelização. Certamente que também os leigos não podem deixar de ter obrigações para com o padre a comunidade. Um serviço por vocação, a tempo pleno, não dispensa as manifestações de respeito, acolhimento, amor e compreensão, ajuda concreta dos leigos para com o seu pastor.
O padre é o primeiro promotor vocacional pela sua oração e presença aos jovens, às famílias, aos grupos de formação e apostolado. A ele compete manter na comunidade a preocupação para que cada um encontre o seu caminho de realização à luz da sua fé e do sentido de Deus na sua vida.
A vida do padre deve estar orientada, como recorda o Concílio, no sentido de resposta pessoal à santidade, de cuidar da sua preparação para evangelizar um mundo concreto, da formação permanente a nível espiritual, intelectual, pastoral, não podendo descuidar o tempo de oração e de estudo, de repouso e de convivência sadia, tendo no horizonte a fidelidade aos seus compromissos, livremente assumidos na ordenação e no exercício diário da missão pastoral. Parco no uso dos bens, espírito pobre para compreender os pobres e ser para eles a mão amiga, disponível para a missão, ainda que, em comunhão com o seu bispo, a realize fora da diocese.
Não é fácil hoje a vida do padre. Mais julgado e criticado do que amado e apoiado por aqueles aos quais dedica todos os dias a sua vida. Também, pelas dificuldades emergentes de um mundo laico, muitas vezes hostil ou desinteressado das coisas de Deus. O padre não está só. A Igreja empenha-se cada vez mais no bem-estar do padre e na formação de equipas de vida e de ação apostólica, para as quais cada padre deve estar aberto. É fácil verificar que, na Igreja, não se constrói nada de válido com o isolamento, o individualismo, a independência pessoal, mas sim com formas de comunhão e de entreajuda mútua. João Paulo II concretiza, de modo claro, na Exortação Apostólica “Dar-vos-ei pastores ” (1992), aspetos essenciais da vida e do ministério do padre.


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