quarta-feira, 23 de maio de 2012

Fui ao Calvário e a Paço de Sousa

Por António Marcelino,
no Correio do Vouga

Padre Américo

Respira-se ali o espírito do Padre Américo por todo o lado. O seu carisma dá sentido às pessoas que dele participam e ali trabalham. Os lugares recordam os passos por ali andados, de sonhador e irresignados. Rapazes, gente deficiente e incurável, permanentes e voluntários, são alma dos espaços e enquadrados bem numa natureza exuberante, onde os mais diversos tons de verde convidam todos os dias à esperança.
O Estado social, que extrapolou o seu sentido mais correto e justo, na relação com os deveres do bem comum, não gosta de gente que faz de graça e por amor o que ele faz a peso de ouro. O verdadeiro amor gratuito nunca está em crise, porque ele mesmo é criativo e inovador. As prestações do Estado social, marcadas pelo que não se pode fazer, não se libertam de crises. A ânsia de afirmação política esgota-se nos tempos difíceis, que estão sempre à espreita para cobrar pelos interesses desvirtuados e pelo poder falacioso que encobre o pretexto de fazer bem. A subsidiariedade não pode ser abafada.
A Obra da Rua, tanto no Calvário, como em Paço de Sousa, em Miranda do Corvo e em Setúbal – em África é mais amada, reconhecida e agradecida – dispõe de condições, de experiência e de alma que faltam em muitas instituições do Estado. Este, abusando do poder e esquecido de que só é grande quando se ama, respeita e serve, esquece quem faz, quem sabe fazer, quem pensa nas pessoas, mais que nas estatísticas. Não faltam, em Portugal, jovens sem família e doentes incuráveis que precisam de ser amados e atendidos. 

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