domingo, 1 de abril de 2012

UM DIA DE SONHO

Texto de Maria Donzília Almeida



O dia amanhecera tranquilo. Depois da chuvada que caíra, de noite, o ar estava limpo do pólen e respirava-se uma atmosfera primaveril. O céu de tão azul, parecia envolver-nos neste novo dia de trabalho.
Logo à entrada da escola, o porteiro saúda a teacher, com uma cortesia e uma simpatia fora do comum. Daí, até à sala de aula, foi um percurso tranquilo, sem correrias, sem atropelos, com todos os alunos compenetrados das suas funções. Cumprimentavam todos os professores, mesmo não sendo seus alunos, numa compostura, nunca vista. Neste dia, a teacher pôde dirigir-se à sala de aula, sem colocar um escudo na frente, para se proteger dos golpes de karaté que acontecem nos corredores. Espantoso! Como seria possível que toda a energia contida, naquelas criaturinhas, estivesse tão controlada, tão disciplinada! Ah! Disciplina é uma coisa de que tanto se fala nas escolas e que tão pouco convive com o quotidiano docente!
Neste dia, tudo era diferente! A mais perfeita serenidade e aquilo de que a teacher tanto gosta: a mais completa harmonia! Como seria possível?
À entrada da sala de aula, continuou o clima de surpresa! Os alunos já estavam ordeiramente sentados, enquanto os delegado e subdelegado cumpriam as suas funções: o primeiro postava-se à porta para receber a professora, enquanto o segundo se alinhava junto ao quadro e se ocupava da ligação das TIC.
Depois de ter cumprimentado os alunos, preparava-se para dar início à aula. Logo veio o delegado informar que neste dia, eram eles que iam apresentar a aula. O assunto vinha mesmo a calhar, depois de umas merecidas férias da Páscoa. O tema a tratar seria o simple past dos verbos ingleses. Todos iriam relatar as suas atividades, durante aquele período de interrupção de aulas: a comemoração da Páscoa, as brincadeiras com amigos, a ida à Feira de Março, etc etc. Para isso haviam feito um trabalho de pesquisa, no dicionário e alguns até tinham ido ao Google Tradutor. Nesta questão das TIC, ninguém lhes leva a palma! São uns experts! Sabem mais que a s(t)ora!
A teacher não podia acreditar no que via. Como podiam aqueles alunos, tantas vezes classificados como uma massa amorfa, sem vontade para nada, a falarem pelos cotovelos (não Inglês), terem tido aquela iniciativa, no 1.º dia de aulas do 3.º período? Não se ficaram por aí! Ligaram o quadro interativo, que o quadro de ardósia, foi relegado para 2.º plano! Começaram a apresentar a matéria da aula: Last Sunday, I went to the Funfair (No domingo, fui à Feira de Março)! Aposto que foram ao Google Translator, cogitou a teacher, mas que importa! Fizeram o esforço por aprender e... espanto dos espantos! Ninguém falava no lugar, ninguém interrompia o mestre improvisado, não era preciso mandar calar ninguém! A teacher assistia, muda e queda, precisando, de vez em quando de se beliscar, para ter a certeza que aquilo não era um sonho.
Sucessivamente, em silêncio, vários alunos foram ao quadro escrever a sua frase, relacionada com as suas férias, logo utilizando a forma verbal do past. Na sala, não se ouvia o sussurro de uma mosca e durante momentos, a teacher teve a sensação de estar a visualizar um DVD de ficção científica. Por fim, também pediu para escrever/ ler a sua frase: I stayed in a hermitage, where I listened to the birds, I watched the ladybirds... and I breathed fresh air...(Estive num eremitério, ouvi os passarinhos, vi as joaninhas e respirei ar puro…)
Os alunos bebiam as palavras da professora, com mais sofreguidão que o sumo, que vêm a beber para a sala, quando toca para a entrada e ficam a acabar, à porta.....
A teacher aproveitou aquele momento de enlevo... fechou os olhos e abençoou aquela ditosa profissão!

01.04.2012

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