domingo, 8 de abril de 2012

TECENDO A VIDA UMAS COISITAS - 285


PITADAS DE SAL – 15


AS TÉCNICAS


 Caríssima/o: 

Andava com as palavras às voltas sem bem saber que dizer e escrever sobre as técnicas usadas na fabricação do sal, quando li estas de alguém que sabia do que falava:



«O sal de Aveiro não nasce, como nascem e medram os frutos silvestres. 
É feito pelo marnoto, com o seu talento, sofrimento e dedicação. 
Sem estes, que sintetizam toda a valorização desta figura regional tão típica, o sal de Aveiro não mostraria aquele seu reluzir inebriante quando o Sol lhe cai em cima e o afaga. 
O sal de Aveiro tem os seus pergaminhos, e ostenta uma linhagem que o distingue e o torna preferido, – quer, ainda pela delicadeza dos seus cristais, provinda da delicadeza com que o acariciam as mãos do nosso marnoto! Dele colhe, ao nascer, os carinhos indispensáveis à sua fina estirpe, não vão as suas mãos feri-lo e conspurcá-lo quando é retirado do seu leito natalício que um ténue lençol de água cobre docemente... 
...É então que o seu progenitor revela toda a sua arte, rendo-o mansamente na terna preocupação de o trazer para a luz do dia são e escorreito. Este pormenor da natalidade e da vivência do sal de Aveiro, – com os seus épicos ressaibos de drama e de glória – põe em evidência toda a grandiosa epopeia do trabalho do marnoto de Aveiro e o singular merecimento do nosso sal.» [“Sal de Aveiro ─ epopeia dos marnotos”, dr. Victor Manuel Machado Gomes] 

Acompanhámos a botadela na marinha da «Novazinha das Canas» e observámos o trabalho, a canseira e a experiência postos à prova nas tarefas mais exigentes, que só o marnoto executava. Pois bem, não imaginamos o que foi preciso até se chegar a este dia; e estamos tentados a dizer que o marnoto e os moços mereciam agora um descanso reparador... 

Ora, por Março ou Abril se inicia(va) a safra, observando os estragos da invernia e fazendo: escoamento das águas da marinha, reparação dos estragos, limpeza e reconstrução da marinha, estrangedura e cura. 

Agora a marinha está preparada para a botadela.
E sem qualquer intervalo ou interrupção (a não ser provocado pelo tempo menos próprio...) seguem-se a gestão das águas, recolha, acumulação e transporte do sal. 

Resta desejar boa sorte e esperar que seja um ano de colheita abundante!

Mas para isso, além da arte, talento e dedicação do marnoto é preciso que o “S. Pedro dê uma ajudinha”, com sol e vento de feição! 

Santa e feliz Páscoa!

Manuel

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