segunda-feira, 23 de abril de 2012

CINCO QUADRAS DE ANTÓNIO ALEIXO






Acho uma moral ruim
trazer o vulgo enganado:
mandarem fazer assim
e eles fazerem assado.

Sou um dos membros malditos
dessa falsa sociedade
que, baseada nos mitos,
pode roubar à vontade.

Esses por quem não te interessas
produzem quanto consomes:
vivem das tuas promessas
ganhando o pão que tu comes.

Não me dêem mais desgostos
porque sei raciocinar...
Só os burros estão dispostos
a sofrer sem protestar!

Esta mascarada enorme
com que o mundo nos aldraba,
dura enquanto o povo dorme,
quando ele acordar, acaba.

António Aleixo


Nota: Sugestão de José Simões




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2 comentários:

  1. Como sou apreciadora do poeta, sei de cor, várias quadras. Transcrevo duas que se enquadram no atual contexto político:

    Vós que lá, do vosso império
    Prometeis um mundo novo
    Calai-vos que pode o povo
    Querer um mundo novo, a sério!

    Aquele que trabalha e come,
    Não come o pão de ninguém.
    Mas quem não trabalha e come,
    Come sempre o pão de alguém!

    E viva o poeta, cheio de sabedoria e filosofia!Grande António Aleixo!

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  2. Olá amigo, adoro António Aleixo e essas quadras são maravilhosas. Linda homenagem ao poeta. Aqui vão algumas quadras do poeta e que eu adoro. Beijos com carinho



    Quem prende a água que corre
    É por si próprio enganado
    O ribeirinho não morre
    Vai correr por outro lado.

    Sei que pareço um ladrão
    Mas há muitos que eu conheço,
    Que, não parecendo o que são,
    São aquilo que eu pareço.

    Embora os meus olhos sejam
    Os mais pequenos do mundo,
    O que importa é que eles vejam
    O que os homens são no fundo.

    Eu não tenho vistas largas,
    Nem grande sabedoria,
    Mas dão-me as horas amargas
    Lições de filosofia.

    Uma mosca sem valor
    Pousa co'a mesma alegria
    Na careca de um doutor
    Como em qualquer porcaria.

    Sou um dos membros malditos
    Dessa falsa sociedade
    Que, baseada nos mitos,
    Pode roubar à vontade.

    Finges não ver a verdade,
    Porque, afinal, tu compreendes
    Que, atrás dessa ingenuidade,
    Tens tudo quanto pretendes.

    Há tantos burros mandando
    Em homens de inteligência,
    Que ás vezes fico pensando
    Que a burrice é uma ciência.

    Nós não devemos cantar
    A um deus cheio de encantos
    Que se deixa utilizar
    P'ra bem duns e mal de tantos.

    Veste bem já reparaste
    Mas ele próprio ignora
    Que por dentro é um contraste
    Com o que mostra por fora.

    Eu não sei porque razão
    Certos homens, a meu ver,
    Quanto mais pequenos são
    Maiores querem parecer.

    António Aleixo

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