quinta-feira, 22 de março de 2012

MAIS 10 MIL... MAIS 2 EM 1

Texto de António Marcelino
No Correio do Vouga




Não se trata de uma charada para divertir, mas da tomada de consciência de uma decisão para ir ao encontro de muitos mais velhos, homens e mulheres, abandonados e vivendo uma dolorosa solidão, sem amor, conforto e meios de subsistência normal.
Perante uma realidade tão dura e em crescimento, o governo decidiu subsidiar mais 10 mil internamentos e pediu às instituições a colocação de duas camas, em quartos que apenas tinham uma.
Não se pode negar que há situações que necessitam de imediato internamento: pessoas sem família, famílias comprovadamente impossibilitadas de tratar e de zelar pelos seus, dependências graves e necessidade de cuidados especiais. O internamento tornou-se, para muitos filhos, netos e sobrinhos candidatos a herdanças, a solução que menos os responsabiliza e incomoda. Alcançado o objetivo, as visitas vão-se tornando mais raras. Então, não se pode sequer imaginar a dor de quem, no silêncio, ainda pode tomar consciência do abandono e de que não tem lugar na casa que construiu com sacrifício, nem no coração dos filhos que criou com amor. Uma condenação antecipada, que não permite sequer um queixume, porque os ouvidos que o deviam ouvir não estão disponíveis.
O Lar não pode ser a solução universal. Nem sequer é solução, quando se dispensa a família. Centros de dia, salas de convívio, apoio domiciliário, internamento só de noite, casas grandes de famílias abertas a um acolhimento devidamente compensado são outras soluções, porventura mais humanas, mais controladas e mais respeitadoras.
Impõe-se um estudo sério, feito por pessoas responsáveis e integras, em relação ao pedido de internamento no lar e ao papel da família, quando consegue o que pretende. O dever de um filho não se cumpre apenas na secretaria da instituição… Ninguém pode obrigar a amar, mas pode-se ajudar a ser humano e agradecido.
É por vezes degradante a imagem do salão com muitos internados ali expostos. Um lar não pode ser apenas para ajudar a morrer, mas, sobretudo, é para proporcionar a alegria de viver. Há lares onde as pessoas contam e outros onde só contam as contas…

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