sábado, 24 de março de 2012

DIA DO ESTUDANTE - 24 de março


TEXTO DE MARIA DONZÍLIA ALMEIDA

Penedo da Saudade

Esta vida de estudante
É uma vida atormentada!
Quem estuda, não pode amar,
Quem ama, não estuda nada!

Quem não se lembra desta toada? Dos tempos gloriosos da sua vida de estudante, dos tempos em que se vivia à custa dos pais, sem outras preocupações que não fosse estudar? Os pais investiam e acreditavam no investimento que faziam, queriam apenas ver os dividendos, periodicamente.
O tempo era de mergulhar, no mundo do saber, mas essencialmente da vida!
Foi na velha Academia de Coimbra que passei o melhor dos meus verdes anos. Saída do regaço materno, diretamente para o turbilhão duma cidade fervilhante de vida, fiz o meu mergulho, na mais genuína turbulência académica. Conheci os meandros da Lusa Atenas e, esporadicamente, fazia uma incursão ao exuberante Jardim Botânico, mesmo ali, ao descer da Faculdade de Letras. Vem daí, o meu gosto e admiração pela arte da jardinagem e o culto por espécies botânicas exóticas e de variadas proveniências. Circulava na voz do povo:


                                    Eu fui ao jardim Botânico
                                    Passear debaixo da tília
                                    E ao fim de nove meses
                                    Dei um (des)gosto à família!

A partir de Abril/Maio, as temperaturas começam a subir e a criar um ambiente convidativo aos passeios pelo jardim. Particularmente, à noite, a atmosfera morna que se respira, rescendendo a rosmaninho, sem as nortadas que caracterizam a nossa terra, envolve os estudantes em convívios e passeios muito agradáveis.
É possível que a demografia tenha sido influenciada por este clima ameno, mas.............bem-aventurados os frutos do amor!
Coimbra é pródiga em ambientes românticos, no seio da natureza:

Jardim da Sereia

                                  E naquele Jardim da Sereia,
                                 Sob um denso arvoredo
                                 Entretecia-se a teia
                                 Dos sentimentos! Sem medo!

Havia muitos jardins, muitas zonas verdes, a contrastar com a parte velha da urbe, nos seus monumentos centenários, nas pedras carcomidas da calçada. E qual é o estudante que não calcorreia de lés a lés a sua cidade universitária, para lhe sentir o pulsar, para lhe penetrar os meandros.

Quebra-Costas

                                E o Quebra-Costas subir?
                                Tinha que se escorregar
                                Para a tradição se cumprir
                                E no fim do ano passar!

Todo o estudante que se prezasse, conhecia a tradição de se cair naquele declive enorme, para passar o ano. Não custava nada! Difícil era mesmo não cair, mesmo sem os saltos altos que as moças usam, hoje em dia. Com os seus altos e baixos, esta cidade é rica em locais panorâmicos, donde se desfruta uma vista soberba cuja amplitude nos faz perder de vista esta laboriosa cidade.

                                 Do Penedo da Saudade
                                 Lancei os olhos além!
                                 Meu sonho de eternidade
                                 Com saudade rima bem!

Aos vinte anos, com a alma cheia de sonhos e projetos, tudo parece estar ao alcance. Há uma energia incontida que quer mudar tudo, que quer reformar o mundo. Passadas umas décadas, queremos reformar-nos a nós próprios! Evolução da idade! Quantas recordações ficaram que servem de pasto às tertúlias de amigos, ex-colegas, companheiros de jornada! Recordemos, pois recordar também é viver!

Serenatas romanescas
Trovas quase orações!
Destas coisas pitorescas
Restam só recordações!

Os estudantes, independentemente dos seus credos religiosos, sejam praticantes ou não, estão irmanados na mesma prece que elevam aos céus docentes!

Oração do Estudante
Professor nosso, que estais na sala
Aumentai as nossas férias,
Diminuí as nossas aulas,
Mantenha a sua paciência!
Perdoai nossas cábulas,
Assim como as nossas faltas,
Como nós perdoamos a existência de professores.
Não nos deixei cair em aulas de substituição
E livrai-nos da reprovação!
Ah, mãe!


24.03.212

                                

1 comentário:

  1. Só faltou a referência à crise académica de 1969, que foi um estrondo na vida político/social e trouxe uma nova dinâmica à cidade de Coimbra. Aí, sim, os serões realizados nos jardins da Associação Académica, com o camarada Zeca Afonso a animar o sarau, foram berço de muitas paixões. A temperatura morna da noite, os fragâncias a evolar-se da terra......fomentavam a mística da revolução.E a energia dos estudantes fluia e extravasava.....

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