terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Dia Internacional da Língua Materna: 21 de fevereiro


Um texto de Maria Donzília Almeida



As línguas maternas têm um papel fundamental na nossa vida, pois são o meio pelo qual verbalizamos o mundo pela primeira vez, sendo as lentes pelas quais começamos a entendê-lo. O Dia Internacional da Língua Materna é o momento de reconhecer a importância destas e de nos mobilizarmos pela diversidade linguística. Como fontes de criatividade e meios para a expressão cultural, elas também são importantes para a saúde das sociedades, além de serem fatores de desenvolvimento e crescimento. Hoje conhecemos a importância do ensino na língua materna para obtermos bons resultados de aprendizagem. Todos os saberes a utilizam para veicular informação, como suporte da investigação e aliada da ciência. A instrução em língua materna é uma poderosa forma de lutar contra a discriminação e para que o conhecimento alcance as populações marginalizadas. Como verdadeiros mananciais de conhecimento, as línguas também são o ponto de partida básico na busca por maior sustentabilidade no desenvolvimento e para criar relações mais harmoniosas com o meio ambiente As línguas maternas convivem, pacificamente, com a aquisição de outras línguas. Um espaço linguístico plural permite compartilhar a riqueza da diversidade, acelerando o intercâmbio de conhecimentos e experiências. A partir da língua materna, a aprendizagem de outros idiomas deve ser uma das altas prioridades da educação no século XXI.

Esta comemoração impulsionou, assim, os esforços dessa organização internacional para proteger as quase seis mil diferentes línguas existentes no mundo e, ao mesmo tempo, preservar a diversidade cultural.
A Unesco reconheceu o papel que a língua materna tem, não só no desenvolvimento da criatividade, capacidade de comunicação e na elaboração de conceitos, como também no facto de que as línguas maternas constituem o primeiro vetor da identidade cultural.
Em relação à minha língua materna, o Português, sempre pugnei pela sua preservação e defesa, sem modismos e interferências políticas. Como sou uma criatura de pouca estatura(!?) para contestar o (Des)Acordo Ortográfico, atrevo-me, ‘inda assim a publicar o meu compromisso de honra em relação à minha Língua Materna. Logo que adquiri consciência cívica, sentido de pátria, e reconhecimento dos nossos órgãos de soberania, fiz este juramento: amar, respeitar e guardar fidelidade até à morte, a esta língua que me viu nascer, sempre me acompanhou e com a qual fiz uma aliança vitalícia!
Apesar da minha atracão, por outras línguas, o que atesta a minha condição humana, de pessoa que tem o fraquinho da comunicação, hei-de conviver, sempre, pacificamente com as outras, sem nunca relegar a eleita, para um papel secundário. É ela que me socorre sempre em qualquer situação de embaraço ou de dificuldade. É a mais querida, mais amada, quase idolatrada!
Foi com emoção genuína, patriótica que me deparei com a nossa língua, no oriente, em terras tão distantes como Goa, na Índia, onde os descendentes dos colonizadores falavam o Português com um orgulho misto de saudade! Apesar de estarmos tão maltratados no panorama nacional, essas manifestações de cultura lusíada ainda conseguem arrebatar-nos. No meu mais recente contacto com povos, além-mar, convivi, de perto, com a comunidade S. Tomense, onde o Português continua a ser a língua materna. Há uma sensação de proximidade, que nem as milhas de distância que se interpõem entre nós, conseguem dissipar!
Para terminar, em louvor à Língua Portuguesa, nada melhor que transcrever a pérola do classicismo – o soneto.

                       Sorriso

Naquele fim de tarde tu não viste
Nascer a madrugada no meu peito
E, se o mundo era belo e tão perfeito,
Tive o sol na mão quando me sorriste.

Foi sorriso tão doce que resiste
Ao vil correr do tempo e ao seu efeito
E, então, de alma curvada, eu rendo preito
Ao amor, que entre nós, ainda existe.

Mas Deus, que quer consigo quem Ele ama,
Levou-te do calor da nossa cama
Que, em si, ficou seca de alegrias.

Abriga-te num Céu sem dor ou penas
Mas, sofrendo e descrente, eu sei apenas
Que jazemos os dois em campas frias.

Domingos Freire Cardoso

Tão perto de nós, é um Ilhavense assumido, este poeta de craveira, que deve ser divulgado, para bem da nossa língua materna. Trata-a, com muito carinho e desvelo e insurge-se quando vê os atropelos que lhe fazem.

21 de Fevereiro de 2012

Sem comentários:

Enviar um comentário