quinta-feira, 2 de julho de 2009

GEGN: Entrevista com Alfredo Ferreira da Silva


Os trajes são de gente simples,
porque a Gafanha nunca foi terra de fidalgos


No próximo dia 11 de Julho, o Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré (GEGN) vai realizar o seu XXVI Festival Nacional de Folclore, com a participação de cinco grupos. Esta iniciativa, que tem sido, ao longo de 26 anos, a mais expressiva, ao nível da cultura popular, levada a cabo pelo grupo, mostra à evidência a vitalidade desta associação, ostentando garantias de continuidade, pela força da juventude que a integra. 
Nasceu a partir de uma festa de final do ano catequético da nossa paróquia, registando a história o dia 1 de Setembro de 1983 como data de fundação. Assume em 11 de Julho de 1986, por escritura pública, a sua existência legal. Desde a primeira hora, tem sido, sem dúvida, um extraordinário baluarte da cultura da região e um grande embaixador da Gafanha da Nazaré, quer no País, quer no estrangeiro.

Em antevésperas de mais um Festival Nacional de Folclore, quis ouvir um dos seus fundadores e presidente da direcção, Alfredo Ferreira da Silva, com o objectivo de dar a conhecer aos meus leitores um pouco da vida desta instituição cultural, que já atingiu, há muito, a maioridade. 
A conversa decorreu no ambiente mais apropriado, na sala de jantar da Casa-Gafanhoa, espaço museológico representativo de uma habitação de lavrador rico dos princípios do século XX. Alfredo Ferreira da Silva recorda que os 26 Festivais de Folclore da Gafanha da Nazaré correspondem à idade do Grupo Etnográfico, como associação cultural com intervenção nas áreas da pesquisa, do estudo, do registo, dos ensaios e das actuações. 
A oficialização veio mais tarde, depois de confirmado que na nossa região havia tradições que mereciam e deviam ser recordadas, revividas e divulgadas. Ferreira da Silva quer continuar a mostrar o que a nossa terra tem neste sector da cultura. No entanto, adianta que os responsáveis do GEGN têm de enfrentar a situação de alguns colaboradores, que “têm pouca disponibilidade de tempo”. Acrescenta que “a vida de hoje é um bocado diferente e difícil”.
Recorda que “outros vão envelhecendo e já não podem fazer tudo o que é necessário fazer; apenas vão coordenando e apoiando os mais novos.” O presidente do Grupo Etnográfico sublinha, contudo, que, “felizmente, têm aparecido muitos jovens, até ao 12.º ano de escolaridade; quando entram nas universidades ou se empregam, nem sempre podem dar o seu contributo, embora alguns o façam, apesar dos sacrifícios por que têm de passar”. 
Questionado sobre o envolvimento dos mais novos nas pesquisas e estudo das nossas raízes, Ferreira da Silva garante que essa tarefa ainda está mais nas mãos dos que andam no grupo desde a primeira hora. São, portanto, os mais velhos que recolhem as nossas tradições, nomeadamente, nas áreas das músicas, danças e cantares. Muitas recolhas estão na “mala”, não podendo ser divulgadas, apenas porque “o reportório já é bastante grande”, informa. 
Quanto a participações nos mais diversos festivais para os quais o GEGN é convidado, Ferreira da Silva explica que houve uma fase inicial de grande entusiasmo, próprio da juventude. “Havia saídas às sextas-feiras, sábados e domingos e até às segundas-feiras; eram fins-de-semana muito ocupados e muito cansativos; a partir de certa altura, optámos por saídas aos sábados e domingos, neste caso só se for perto, porque os membros do grupo têm de trabalhar ou estudar às segundas de manhã”, esclareceu.
O GEGN tem compromissos com a Câmara Municipal de Ílhavo, no sentido de participar nos eventos para os quais é convidado. Assinou um protocolo com a autarquia, recebendo dela um subsídio anual, fundamental para a subsistência da associação. 
Outras receitas resultam de “jantares, rifas e quermesses organizados para o efeito”. Ainda recebe apoios do Instituto da Juventude e da Junta de Freguesia. Neste caso, não muito significativos, “porque as receitas da Junta não devem ser muito grandes”.


Manequim representativo do gafanhão

O GEGN considera que a filiação na Federação do Folclore Português (FFP), ocorrida em 16 de Maio de 1988, significa, como regalia a ter em conta, “a garantia de qualidade”. E acrescenta: “Os dirigentes e técnicos da Federação estão constantemente a exigir rigor nas visitas que fazem aos seus filiados, o que é muito bom, para não se apresentar gato por lebre.” 
Ferreira da Silva fez questão de sublinhar que o Folclore não é espectáculo para toda a gente, mas apenas para quem sabe apreciar trajes das regiões e de determinadas épocas, suas danças e cantares, ritmos e postura do corpo. “Quando convidamos grupos para os nossos festivais, pedimos, normalmente, que apresentem o seu folclore genuíno, porque não podemos deixar de ser exigentes”, frisou. E sobre os trajes apresentados pelo GEGN, salienta que são todos de gente simples e de trabalho. “A Gafanha nunca foi terra de fidalgos”, esclarece. 

Fernando Martins


XXVI Festival Nacional de Folclore
da Gafanha da Nazaré

Data: 11-07-2009 
Local: Largo anexo à Alameda Prior Sardo 
Grupos participantes: Orfeão da Feira – Vila da Feira; Rancho Folclórico e Etnográfico e Arzila, Soure; Grupo Etnográfico “Os Esparteiros de Mouriscas”- Mouriscas – Abrantes; Centro Recreio Popular S. Félix da Marinha – Vila Nova de Gaia; e Grupo Etnográfico da Gafanha da Nazaré. 
Programa: 
16.30 horas – Recepção aos grupos participantes 
17 horas – Visita à Casa Gafanhoa e cerimónia de boas-vindas, com entrega de lembranças 
18.30 horas – Jantar na Escola Preparatória da Gafanha da Nazaré 
21 horas – Início do desfile 
21.30 horas – Abertura oficial do Festival 
22 horas – Início do Festival

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