quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Um artigo de D. António Marcelino

Valor educativo indispensável da história
Desprezar a história, além de uma triste manifestação de incultura, é voltar, de modo claro, à barbárie. Os bárbaros de outros séculos, que os há em todos os séculos, fizeram isso mesmo: destruíram monumentos, incendiaram bibliotecas, perseguiram pessoas de saber e com saber, deixaram a humanidade mais pobre, apagaram as referências e iludiram os apelos de reconhecimento e de criatividade.
Em tempos passados, e mesmo ainda em tempos recentes, porque um século ou dois pouco significam, quando se queria perpetuar a memória de uma pessoa à qual a sociedade ficara devedora, erigia-se-lhe uma estátua em lugar público e bem visível. Outras vezes, foram acontecimentos que valia a pena perpetuar. Nada melhor que um monumento artístico comemorativo, que expressasse gratidão, proporcionasse visitas de estudo, evocação histórica, enriquecimento educativo. Eram marcos de valor cultural e moral que serviriam de apelo às gerações vindouras, livros abertos de grande saber, ao alcance de todos.
Neste tempo vimos destruídos alguns destes monumentos.Há hoje uma atitude positiva que é preciso aplaudir e se traduz nas visitas frequentes de alguns professores/educadores com os seus alunos, às vezes ainda pequeninos, a encher salas de museus e de outras riquezas do nosso património histórico e artístico. Aí se ouvem explicações, se fazem descobertas, confrontando o que dizem as páginas frias dos livros de estudo, enriquecidos agora pelo que se vê e se aprende a admirar.
Não há história que não tenha projecção no tempo, presente e futuro. Sempre na história está a raiz do projecto, para quem sabe ver, perceber e consciencializar.Vale a pena recordar, da famosa e tão falada obra de Cervantes, D. Quixote, em comemorações jubilares, esta sentença de profunda dimensão cultural: “ A História é rival do tempo, depósito de acções, testemunha do passado, exemplo e aviso no presente, advertência para o futuro.”
Com frequência, ao entrevistarem-se pessoas de responsabilidade social, pelo que são e pelo que têm de decidir, sobre o que estão lendo, se ouve falar de livros de história e de biografias de gente que marcou o tempo. Essas as suas leituras do dia-a-dia.
As pessoas incultas, prisioneiras de um transitório inconsistente, e que não são, nem de longe, os iletrados, muitas vezes, por ignorância e preconceito, desfiguram a história e destroem os valores que ela comporta, como património cultural de e para toda a humanidade. O preconceito é, pelo seu reducionismo, uma manifestação de pobreza cultural.
Ninguém pode pensar que com uma peneira se tapa o sol. As pessoas livres abrem-se, avidamente, à luz revigorante da realidade e da verdade, venha ela de onde vier, porque sabem que, pela luz recebida, se pode ser, também, luz repartida.
O Natal é a História entretecida pelo divino e o humano, tornada visível no rosto luminoso de uma Criança adorável, que deu sentido definitivo ao tempo, porque marcou o ponto mais alto da história humana. O salto do Céu à Terra é a grande maravilha que, em cada Natal, a história guarda e a fé professa e perpetua.
De Belém ao Calvário, é a história confirmada de uma Pessoa com projecto, permanente e eterno, que a Páscoa traduz por dádiva de vida abundante, ao alcance de todos. O cristão será sempre um cultor da História. Nela está a sua razão de ser e de existir, nela o seu valor, presente e futuro, que lhe permite poder dar também a tudo, o seu valor próprio.
A história não é nostalgia nem saudosismo, mas ponto de apoio indispensável, e, por isso, tem sempre grande valor educativo. Ela é e será para todos, a grande “mestra da vida”.

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